Uso de simbologia africana marca identidade visual da Feira do Livro
Variadas
Publicado em 05/03/2023

A 49ª Feira do Livro da FURG de 2023 tem como tema um diálogo potente e necessário sobre culturas e presenças negras na literatura, nas artes e na música, bem como nos tempos e espaços dos municípios do entorno da cidade do Rio Grande/RS.

Revisitando algumas marcas culturais dos povos negros, a comissão organizadora do evento entendeu que a presença do coletivo e da ancestralidade são princípios que precisam acompanhar desde o planejamento desta edição até sua avaliação final. Assim, para ajudar a compor a trama de símbolos e significados para a identidade visual da Feira, foram adotados como símbolo gráfico os adinkra, sistema de escrita pictográfica e de ideias comprometidas com a preservação e transmissão de valores fundamentais da cultura africana.

A comissão organizadora convidou artistas da região que dialogam com adinkra - entre eles, Sandra Lee, Marcos Nunes, Esteve, Madruga, Alisson Justamant, Jonas e Alessandro Flores - para que cada um enviasse sua sugestão de símbolo.

"Quando me deparei com os símbolos africanos - que são muito mais do que um recurso gráfico - pensei logo no quanto essa riqueza cultural vai se perpetuar em cada pessoa que passar pela 49ª edição desta feira. Que essas marcas significativas fiquem conosco para sempre, assim como todas as inovações e ideias libertárias que certamente irão surgir", avalia o patrono desta edição, Alisson Affonso.

"Pensamos no adinkra como uma forma de registro escrito para constituir as artes gráficas da Feira", justifica a diretora de Arte e Cultura da universidade, Débora Amaral. "Nossa ideia é uma feira que visibilize presenças negras, e esses símbolos constituem um sistema de escrita pictográfica e de ideias comprometidas com a preservação e transmissão de valores fundamentais".

Os adinkra são um conjunto de símbolos pertencente ao povo ashanti, atualmente localizados principalmente nos países Gana, Burkina Faso e Togo, na África Ocidental, mas também estão presentes em outros lugares do globo, principalmente em consequência dos processos das diásporas africanas.

"Sabemos que esse sistema de escrita africano traz toda uma simbologia, especialmente quando ainda ouvimos que a nossa língua e escrita vêm do latim. Podemos olhar pelo trabalho da Sandra Lee, em seu mestrado em Educação Ambiental na FURG, o quanto símbolos estão espalhados por Rio Grande e o quanto esse sistema africano é muito presente, distribuído de uma outra maneira - pelas grades, pelos portões da cidade", observa a coordenadora do Núcleo de Estudos e professora do Instituto de Ciências Humanas e da Informação (Ichi), Cassiane Paixão. "Então os adinkra que estarão presentes na Feira do Livro trazem não só símbolos, mas a simbologia de um sistema de conhecimento africano que veio para o Brasil e permaneceu pelo conhecimento dos nossos ancestrais, e que hoje precisa não só ser reproduzido. É preciso entender qual o significado desses símbolos que vieram para cá, trazendo uma forma de pensar e de referenciar a nossa ancestralidade; pensar um pouco sobre o que é esse conhecimento africano que está entre nós e que, muitas vezes, é negado pela sociedade brasileira", completa a coordenadora.

Homenagens festivas e fúnebres
"Adinkra" significa adeus e engloba mais de 80 símbolos, destacados pelo conteúdo que trazem como ideogramas. A simbologia adinkra é tão rica que seus símbolos representam ideias abstratas com valores morais, provérbios, as qualidades de seus heróis e os eventos da história oral desta cultura ancestral.

São chamados "adinkra" tecidos estampados com esta simbologia, respeitados pela tradição de seus significados, que são usados para dar distinção às características e qualidades de uma pessoa honrada pela comunidade. Por tudo isso, os adinkra são presenteados para homenagear a pessoa em vida e na morte, e são também usados por outras pessoas presentes nestas homenagens festivas e fúnebres para o homenageado.

Assessoria -- FURG

 

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