Dados do último levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego no final de julho, trouxeram uma boa notícia para o Rio Grande do Sul. O Estado finalizou o primeiro semestre de 2023 com um saldo positivo de 53.315 postos de trabalho.
Segundo as informações, o resultado é proveniente da diferença entre as 763.996 admissões e as 710.681 demissões ocorridas entre janeiro e junho deste ano. No último mês do semestre, o Estado também apresentou um saldo de 498 trabalhadores estrangeiros e 407 aprendizes. O salário médio foi de R$ 1.899,86.
Ainda segundo os números do Caged, as contratações foram impulsionadas pelos setores de serviços (30.655 postos) e da indústria (20.557). Nos seis primeiros meses do ano, o destaque ficou com fevereiro, que apresentou saldo positivo de 20.367 vínculos formais de emprego.
Para o diretor-presidente da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS), José Scorsatto, o resultado indica um possível crescimento mais expressivo para a segunda metade de 2023, impulsionado também pela queda na taxa básica de juros aprovada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na última semana.
“Vamos respeitar o que a economia nacional ditar. Tivemos uma baixa na taxa Selic e há projeções de que, até o final do ano, ela cairá ainda mais. Se a retração for significativa, como as análises indicam, o comércio aumenta as vendas e a indústria precisará empregar mais. Em consequência disso, crescerá a empregabilidade”, explica Scorsatto.
Ainda segundo ele, o crescimento dos postos de trabalhos gerados entre agosto e dezembro deve ser influenciado principalmente pela entrada dos safristas – pessoas contratadas para atender a demandas do setor agropecuário durante determinados períodos (como plantio, colheita e vacinação de animais). A partir de outubro, o litoral gaúcho também deve contribuir para o maior número de empregados.
Com a intenção de melhorar a aproximação entre empregador e empregado, a FGTAS/Sine tem trabalhado na implementação de um sistema da Rede de Intermediação de Mão de Obras (Rede IMO), do governo federal, que possibilita maior acesso ao emprego.
“Faremos, o mais breve possível, um teste piloto nas agências para aumentar a facilidade de acesso tanto das pessoas que procuram emprego quanto do empregador (que vai conseguir visualizar currículo, idade, local e sexo, por exemplo). O contratante poderá realizar uma entrevista virtual, tudo acompanhado pela rede FGTAS/Sine”, conta Scorsatto. “Nossas agências ainda ficarão disponíveis para atender quem não sabe lidar com a ferramenta, não tem um smartphone ou acesso a internet.”
Até o final de julho, as agências do FGTAS/Sine tinham 6.197 vagas de emprego abertas no Estado. Desse total, 5.732 são permanentes e 465, temporárias. Das vagas disponíveis, 361 são exclusivas para pessoas com deficiência.
Ações inclusivas
Para conseguir atender os diversos públicos que compõem a mão de obra do Rio Grande do Sul, a FGTAS/Sine realiza ações voltadas para grupos específicos. O objetivo é possibilitar a entrada no mercado formal de trabalho.
Com foco na comunidade de pessoas com deficiência (PCDs) e reabilitados do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), a entidade realiza, por exemplo, o Dia de Oportunidades, que ocorre mensalmente de janeiro a novembro. Além disso, utiliza o Sine Móvel para captar pessoas que se encaixam nos requisitos das vagas. Várias empresas costumam comparecer, realizando entrevistas no próprio local, inclusive com intérprete de Libras.
Há programação específica também para a população de migrantes. Em junho, a entidade promoveu um dia de atendimento preferencial durante a IV Semana Estadual do Migrante. São disponibilizados ainda serviços de apoio de equipe especializada em migrações, atendimento multilíngue (francês, espanhol, português e inglês), auxílio na regularização migratória, matrícula para aulas de português, orientação no encaminhamento de diversas documentações e dicas sobre como se apresentar em uma entrevista.
Ações da FGTAS também são dirigidas para pessoas LGBTQIAPN+, como o feirão de serviços realizado em maio. Em parceria com a Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), foram realizados encaminhamentos para entrevistas de trabalho com diversas empresas e ofertadas oficinas voltadas à qualificação acadêmica para o destaque profissional.
Durante todas essas ações, além de encaminhar para vagas de emprego, também são prestadas orientações sobre seguro-desemprego e Carteira de Trabalho Digital.
Mudanças
Com o cenário favorável revelado pelos dados do Caged, são destacadas a resiliência e a capacidade de adaptação de pessoas que buscam recolocação ou movimentação no mercado de trabalho. Entre elas, estão aquelas que vieram de outros Estados e até mesmo de fora do Brasil, mas que escolheram trabalhar no Rio Grande do Sul por terem encontrado a oportunidade de construir uma nova trajetória profissional.
Vinda do Pará, Elinalva Rodrigues se mudou para Guaíba com suas duas filhas. Ela diz que, em um primeiro momento, precisou se adaptar no aspecto cultural devido às diferenças com seu Estado de origem.
“Quando cheguei, fiquei um tempo desempregada até me adaptar, conhecer a cidade. Aí consegui emprego e, depois de um ano de trabalho, apareceu outra oportunidade melhor”, conta Elinalva.
Já Edivânia Martucha, natural do Ceará, está no Rio Grande do Sul há seis meses. Ela trabalha com telemarketing em uma entidade do terceiro setor em Porto Alegre.
“Tenho experiência no ramo, mas em algo totalmente diferente. Nunca trabalhei com a parte filantrópica, então sou muito grata por terem me oferecido essa oportunidade na empresa, pois isso tem ajudado no orçamento de casa, na alimentação dos meus filhos. Além disso, me identifiquei bastante com o trabalho”, comemora Edivânia.
Para Iara Busch, nascida na Argentina, o território gaúcho tem sido sua casa desde os 12 anos, quando se mudou para o Estado com sua mãe, a única brasileira da família. Mesmo com a maioria dos parentes no país vizinho, ela decidiu permanecer no Brasil.
“Em 2019 me formei em hotelaria, mas logo na sequência veio a pandemia e o setor foi o primeiro a fechar. Com isso, precisei ir para a informalidade e comecei a trabalhar fazendo empanadas argentinas. Porém, continuei procurando trabalho formal porque, quando se é chefe de família, ser informal não é algo com o qual se pode contar”, diz Iara. “Conversando com uma amiga, descobri uma vaga, mandei o currículo e passei por toda a seleção. O ambiente de trabalho é bem diversificado, com pessoas de todas as idades.”
Essas histórias ilustram não somente a força do mercado local, mas a capacidade de atração de um Estado que está aberto a acolher talentos de diferentes origens.