Dados de projeto sobre a cadeia produtiva da pesca são apresentados a representantes do setor
Variadas
Publicado em 27/08/2023

A Prefeitura e a Universidade Federal do Rio Grande (FURG) apresentaram, na tarde de quinta-feira (24), os resultados preliminares de um ano do projeto “Desenvolvimento sustentável das pescarias costeiras e fortalecimento da cadeia produtiva de pesca em Rio Grande”. A atividade, ocorrida no Salão Nobre Deputado Carlos Santos, contou com relevante participação de representantes de diversas áreas do setor pesqueiro em Rio Grande, e abordou os estoques de peixes na região, o fluxo econômico da cadeia produtiva e o contexto industrial do ramo no município.
 
Por meio de um convênio firmado entre as duas instituições, com prazo de execução de dois anos, a Furg tem atuado com a participação de profissionais especializados, contando com uma equipe multidisciplinar de doutores, mestres e doutorandos que buscam estudos de diagnósticos e alternativas para toda a cadeia produtiva do pescado na cidade de Rio Grande. Três deles foram responsáveis pela apresentação de ontem, abordando diferentes perspectivas a respeito da pesca. 

“É uma avaliação do que já foi feito, do que podemos modificar ou sugerir de aperfeiçoamento para o próximo ano. É um trabalho relevante porque nos trás números e informações que até então não tínhamos e esse é um dos objetivos do projeto, para que depois possamos conceber caminhos e planejamentos. Então foi extremamente positivo, com participação daqueles que participam do processo e que estão interessados, e a Prefeitura vê com bons olhos, justamente para apoiar as melhorias em toda a cadeia produtiva do pescado, ", afirmou o secretário da Pesca de Rio Grande, Bercílio da Silva.

O secretário ainda acrescentou que o trabalho terá algumas “correções de rumo” que foram sugeridas durante o evento. A intenção é somar informações principalmente a respeito da pesca do camarão e da pesca artesanal, temas sobre os quais existem poucos dados disponíveis até o momento. 

Estoques

Dando início ao evento, o professor Luís Gustavo Cardoso, do Instituto de Oceanografia da Furg, discorreu a respeito de uma pesquisa realizada sobre o cenário de estoques pesqueiros das regiões Sul e Sudeste do país. Tendo como base apenas os estoques que puderam ser devidamente examinados, ele demonstrou que a quantidade de peixes tem diminuído ao longo das décadas, assim como sua capacidade natural de recuperação, em função dos altos níveis de captura.

A situação é especialmente preocupante a respeito das quantidades de Corvina, espécie que corresponde pela maior parcela no mercado ocupada por Rio Grande, principal produtor do RS. Utilizando cálculos matemáticos, Cardoso apresentou diagnósticos alternativos para a manutenção desta e de outras espécies a partir de um formato que possibilitaria uma exploração da pesca em níveis maiores, trazendo melhores resultados financeiros e fortalecendo a cadeia produtiva. 

Este sistema está diretamente relacionado com a capacidade de recuperação e reprodução das espécies e, para sua aplicação, poderia ser necessária a interrupção temporária da captura. De acordo com os dados coletados, uma produção potencial sustentável poderia chegar ao patamar aproximado de 85 mil toneladas, mais do que o dobro das cerca 40 mil toneladas produzidas em média entre os anos 2017 e 2019. 

Ainda sobre o tema, o professor ressaltou a importância de discutir o tema em sociedade para definir medidas que possam contribuir para uma mudança de cenário e a qualificação do setor pesqueiro em Rio Grande. Além disso, salientou que, independente das alternativas a serem adotadas, é necessário realizar uma reavaliação periódica para entender os impactos de cada medida, buscando sempre os melhores resultados. 

Fluxo econômico da cadeia produtiva

A seguir o evento teve como foco a capacidade econômica da pesca em Rio Grande. O tema foi abordado por Márcio Barbosa, do ICEAC Furg, que utilizou como base as estatísticas das indústrias pesqueiras com registro no Sistema de Inspeção Federal (SIF) de 2022. Hoje são 17 no total no RS, 12 delas sediadas em Rio Grande.

Em sua fala, ele defendeu, por diversas vezes, que para qualificar os estudos e por consequência as ações a serem realizadas para fortalecer o ramo pesqueiro, são necessárias informações de subsídio que possam retratar com veracidade a realidade do setor de Rio Grande. 

Por esse motivo, o economista considera que os dados computados estejam “subestimando” a capacidade produtiva de Rio Grande, considerando a ausência das informações de empresas não registradas no SIF e também o impacto da pesca artesanal, tradicional no município. 

A respeito do fluxo de produtos, Barbosa destacou que a produção é oriunda de empreendimentos não cadastrados no SIF, embarcações pesqueiras que realizam a entrega diretamente em trapiches de empresas, e indústrias com SIF. Após a passagem pela industrialização, os itens são destinados tanto para o mercado interno e externo.

De acordo com dados de 2022, este processo representou uma entrega de 30,8 toneladas de pescado, gerando uma renda estimada de mais de R$ 180 milhões. O resultado de entrega às indústrias, curiosamente, é menor do que o comercializado, que aponta 35,5 mil toneladas vendidas, com renda estimada de R$ 299 milhões. Conforme Barbosa, isso pode estar vinculado aos itens estocados pelas empresas em momentos de preços baixos para a comercialização futura com valores mais altos, assim como à falta de informações totais sobre o setor. 

Os números também mostram uma concentração na produção, já que ela está fortemente baseada em peixe fresco e peixe congelado, que representam cerca de 97% do total comercializado. Com relação a destinação, considerando os dados do ano passado, apenas 56% do montante vendido é absorvido pelo mercado interno, especialmente por Santa Catarina, sendo o restante encaminhado a países do exterior, principalmente africanos, além dos Estados Unidos. 

Em sua apresentação, também fica clara a influência da venda dos produtos com menor valor agregado, neste caso o peixe fresco e o congelado, que tem custo bastante abaixo de outros itens, especialmente em relação a produções mais valorizados comercialmente a partir da industrialização, sendo esta uma alternativa que poderia ser melhor explorada em Rio Grande e que poderia impactar significativamente a economia do setor no município. 

Capacidade das indústrias de Rio Grande

A parte final do evento foi reservada para analisar o resultado da pesquisa realizada diretamente com representantes da indústria pesqueira de Rio Grande. Para isso, de acordo com o professor da Escola de Engenharia da Furg, Rafael Paes, foram feitas 10 entrevistas presenciais e visitadas 21 empresas, além da aplicação de questionários a respeito de produtos, mercados, processos, tecnologias, recursos humanos, qualidade e volumes.
 
A partir das informações coletadas, chama a atenção a importância da Corvina para o setor, conforme mencionado anteriormente, já que a espécie representa 59% do que é comercializado pelas empresas. Em seguida aparece a Tainha, com 15%; a Castanha, com 9% e a Pescada, com 7%. Demais espécies juntas somam 10% do total. 

Sobre o tema Paes também ressaltou a importância de agregar valor ao produto por meio da industrialização, já a venda de um item beneficiado pode custar cerca de 12 vezes mais em relação ao valor do peixe fresco ou congelado no mercado externo. 

Em seguida o professor abordou o volume de produção e as capacidades de armazenagem das empresas rio-grandinas, considerando as informações compiladas diretamente com os empreendimentos. A partir dos dados, comentou que, se houvesse um grande retorno de pescado vindo das embarcações, a atual capacidade de congelamento existente em Rio Grande representaria estoques por no máximo 4,7 dias, considerando o retorno médio diário. 

Em diálogo com representantes do setor, Paes defendeu que o formato antigo da economia pesqueira, com empresas instaladas em grandes estruturas, atualmente gera um custo fixo muito alto, o que impacta diretamente no retorno e na capacidade de reinvestimento no setor. Para ele, um modelo com instalações menores, mas com foco em determinados produtos industrializados com maiores valores agregados, seria o mais indicado para a atual realidade da pesca em Rio Grande. 

Por fim, o professor ainda elencou alguns dos problemas vivenciados pelo ramo em Rio Grande, e que deveriam ser melhor trabalhados para permitir o fortalecimento da área. Confirma alguns deles abaixo.


Sistema Regulatório
- Legislação instável gerando riscos empresariais;
- Cadeia fragmentada com alguns conflitos;
- Baixa capacidade de governança.

Fatores de Produção
- Parque industrial antigo;
- Baixa eficiência e alto custo fixo;
- Baixo grau de automação de processos;
- Baixo grau de investimento;
- Baixa capacidade de congelamento e armazenagem;
- Baixa escolaridade;
- Pouca renovação de mão de obra.

Promoção comercial
- Concentração em poucos produtos;
- Estrutura comercial dependente de agentes externos;
- Baixa agregação de valor.

ASSESSORIA --- PMRG

 

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