Debates e conversas sobre saúde emocional têm sido desenvolvidos em muitos espaços atualmente, mas falar sobre as emoções particulares diante de profissionais capacitados ainda é motivo de vergonha, muitos escondem seus sentimentos e acabam vivendo as consequências dessa atitude. Durante o mês de setembro, a campanha Setembro Amarelo trabalha a valorização da vida, com o objetivo de educar a sociedade sobre a importância dos cuidados com a saúde mental, as formas de identificar o adoecimento, cuidados e tratamentos.
É necessário falar sobre o suicídio. De acordo com o Dr. Rafael Freitas, médico psiquiatra da FURG, “presumir que é algo alheio à nossa realidade tira a oportunidade de tratamento daqueles que sofrem em silêncio. Muitas vezes quem está pensando não consegue se movimentar sozinho para buscar ajuda. Um milhão de vozes falam muito mais alto que uma só.” Por isso, reunimos neste conteúdo as principais informações que você precisa saber para reconhecer os sinais de um adoecimento emocional, tratá-lo e também ajudar outras pessoas.
Principais fatores
Há mais de um fator associado à mortalidade em decorrência do suicídio. Para o psicólogo da FURG Mikael Correa, “é muito simplista e leviano atribuir a apenas uma causa, agente ou acontecimento - e vejo que, infelizmente, há uma tendência cultural em fazer isso com relação ao suicídio. Mas, as pesquisas apontam que o fator principal e mais prevalente em falecimentos por suicídio é um histórico de doença mental (diagnosticada ou não) que não foi tratada adequadamente. [...] entre os fatores agravantes, estão: conflitos familiares, impulsividade e abuso de substâncias, falta de apoio social, desemprego e problemas financeiros graves.” Para o Dr. Rafael, também pode-se destacar fatores como tentativas prévias de consumação, falta de esperança e solidão, além de grandes eventos estressores como a morte de um ente querido, separação conjugal e problemas jurídicos.
Principais sintomas
Qualquer demonstração de sofrimento é sinal para procurar ajuda. Porém, nem sempre os sinais são visíveis, segundo o psicólogo Mikael. “Por vezes, a pessoa busca justamente esconder os sinais dos familiares e dos amigos, de modo que a situação pode passar despercebida ao olhar leigo.”
Mas, observe também:
- Falas frequentes sobre morte e suicídio;
- Manifestações excessivas de culpa;
- Perda de auto-estima;
- Estar ignorando contato através de telefonemas e mensagens;
- Redução de atividades em redes sociais;
- Alterações expressivas dos níveis de atividade ou humor;
- Cancelamento de atividades importantes;
- Etc.
Todas essas atitudes e outras semelhantes podem ser comportamentos que precedem o ato. Além dessas, expressões verbais ou escritas como: “vou desaparecer”, “vou deixar vocês em paz” ou “quero dormir e não acordar” requerem atenção aumentada.
Procure ajuda
Qualquer comportamento diferente ao seu habitual pode ser uma demonstração de vulnerabilidade e necessidade de acompanhamento. Busque por Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossociais (CAPS), atendimentos ambulatoriais em saúde mental - com psicólogos e psiquiatras - disponibilizados em seu trabalho ou pela Universidade.
O Dr. Rafael orienta que caso você esteja na iminência de cometer suicídio ou perceba estar em sofrimento mental intenso e desacompanhado, procure imediatamente o Pronto Socorro ou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próxima; ligue para um familiar ou amigo próximo; ou disque 188 em seu telefone, você será atendido pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), independente do horário.
Também tenha sempre anotado os números de emergência e caso não consiga se deslocar até um serviço de saúde ou se encontrar alguém em situação de morte iminente, agitação ou agressividade extrema: Samu - 192; Bombeiros - 193; Brigada Militar - 190.
Como ajudar
A escuta e o acolhimento são as primeiras atitudes a serem tomadas. Ouça com atenção e respeite a dor. No entanto, não tente diagnosticar ou medicar, encoraje a procurar um profissional que tenha experiência no atendimento em saúde emocional e se possível acompanhe nas consultas.
Centro de Valorização da Vida - 188
O CVV é um serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio, gratuito e sigiloso, que atende 24h por telefone, email ou chat. Os atendentes voluntários são treinados para conduzir a conversa em momentos difíceis, orientar sobre como buscar ajuda e manejar crises, até garantir a estabilidade e segurança.
A vida acadêmica e a saúde emocional
O período acadêmico é marcado por muitos desafios, uma intensa rotina de estudos, dedicação parcial ou exclusiva, responsabilidades e demandas que exigem dos estudantes altas habilidades emocionais de concentração e organização mental. Por isso, os profissionais que colaboraram neste conteúdo, deixaram uma mensagem de encorajamento para que você se conheça, compreenda seus limites e busque ajuda quando sentir necessidade:
“O período acadêmico é propício ao surgimento das mais diversas emoções, sendo elas positivas (prazer, esperança, orgulho, gratidão, satisfação, alívio, entre outras) ou negativas (ansiedade, tristeza, raiva, desilusão, frustração, tédio, vergonha, entre outros). Idealmente, em situações favoráveis, com corpo e mente trabalhando a nosso favor, teríamos condições de lidar com essas emoções da melhor maneira possível. Mas o mar da “vida real” não está nas condições ideais o tempo todo. Às vezes as ondas crescem, a tempestade chega, os saqueadores aparecem e, mesmo assim, o mundo e as nossas necessidades praticamente nos obrigam a seguir navegando, pois a possibilidade constante de ser ultrapassado por outras outras embarcações nos assombra a cada instante. Em condições desfavoráveis, até o mais experiente e bravo navegador deveria reconhecer seus limites e ligar para a guarda-costeira solicitando resgate, mas nem sempre ele enxerga o perigo, dispõe de sinal de rádio ou mesmo admite que pode sucumbir e, nestas situações, a probabilidade de um naufrágio aumenta cada segundo.
Crio este exemplo para dar um pouco de significado a sentimentos abstratos que, um a um, podem ser combatidos. Porém, quando aparecem em bando, podem nos causar avarias. Muitas vezes os estudantes saem de suas cidades e deixam para trás sua família, amigos, conforto e sossego em busca de um sonho. Encontram acolhimento em novos amigos, relações afetivas, professores, telefonemas e videochamadas. Mas em algum momento a intensa rotina da vida acadêmica, composta por aulas, estudos em casa, estágios e avaliações, pode fazer com que as reuniões entre amigos diminuam, as ligações fiquem mais curtas e os encontros menos frequentes. Tudo isso, aliado ao estresse pode causar adoecimento e é aí que devemos ligar a luz de alerta. Quando as emoções negativas tomarem proporções maiores, se combinarem ou se tornarem cada vez mais frequentes ao longo dos dias, medidas devem ser tomadas: atividade física regular, hobbies, meditação, psicoterapia, e, em casos específicos, medicação prescrita por profissional capacitado, podem trazer consigo a leveza necessária para continuar a jornada.
Os estudantes não estão sozinhos. Eles podem e devem usar os recursos da Universidade a seu favor!” - Dr. Rafael Freitas
“O cuidado com a saúde é diário! Assim como os cuidados com a "saúde física", é necessário ter um estilo de vida que inclua o cuidado com a saúde mental, que inclua boas relações, mudança de pensamento, contato com arte e cultura, com a natureza, com um trabalho digno, com a própria espiritualidade - caso você tenha, com engajamento em causas que dão sentido à nossa vida. Não devemos passar por desafios sozinhos! Que possamos fortalecer, cada vez mais os laços de cuidado em um mundo que tende tanto à dispersão e ao individualismo.” - Mikael Correa - Psicólogo
ASSESSORIA -- FURG