Agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem e enfermeiros que atuam nas unidades básicas de saúde de Estratégia em Saúde da Família de Rio Grande participaram, nesta quinta-feira (16), de uma qualificação para Educação em Direitos Humanos voltada à atuação em saúde de povos originários, tradicionais e específicos, realizada no Salão Nobre Deputado Carlos Santos. A capacitação foi conduzida pela Rede Calábria. O evento, organizado pela Secretaria de Município da Saúde (SMS), integra a programação do Novembro Negro “Juventude Negra Também Sonha!”.
A Rede Calábria é uma organização da sociedade civil, localizada em Porto Alegre, contratada pelas esferas públicas federal e estadual para a execução do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas-PPDDH. E dentre as estratégias que desenvolve para isso estão os momentos formativos com a comunidade, como o que ocorreu nesta tarde no Paço Municipal. Os integrantes da Rede, a coordenadora do PPDDH Elisângela Martin e o psicólogo Guilherme Holtz, foram os responsáveis por partilhar o momento formativo, além da Cacica Ângela, da etnia Kaingang.
O coordenador do Programa de Saúde da População Negra de Rio Grande, Sávio Ribeiro, explica que a ideia de construir esse evento formativo surgiu com o contato prévio à Rede - a qual já vem atuando a cerca de 7 meses junto a uma das aldeias indígenas Kaingang no município. “A equipe da Rede esteve aqui anteriormente e nós conhecemos o trabalho deles. Então achamos importante, na nossa prática de saúde, conseguir concatenar essas frentes de trabalho. Porque a gente está acostumado a fazer, fazer e fazer, executar ações do território. Mas às vezes a gente precisa parar e repensar nossa prática. Pensar o que isso tem a ver com a defesa do direito fundamental à vida que a gente constrói”, explicou o coordenador que também é servidor municipal técnico de enfermagem.
Desse modo, os palestrantes da tarde - a partir das atuações territoriais que desenvolvem - levaram ao público de trabalhadores em saúde exemplos de como é possível repensar essas práticas não apenas com os povos indígenas, mas com os povos quilombolas, os povos ribeirinhos e demais comunidades tradicionais específicas. “Trouxemos dentro do Novembro Negro para qualificar o foco das equipes de saúde. E foi muito proveitoso, bem produtivo e ampliou a visão do pessoal”, avaliou Sávio.
A Cacica Ângela agradeceu o convite para dar a formação aos profissionais de saúde e falou sobre os desafios enfrentados pelas aldeias em relação ao atendimento em saúde e a necessidade de realizar uma conferência no próximo ano para buscar soluções. Entre os relatos apresentados pela Cacica, trouxe, por exemplo, o fato de indígenas sofrerem processos de violência dentro dos hospitais, muitas vezes por não compreenderem termos técnicos ou orientações no momento dos atendimentos, além de relatos de violência obstétrica. Para a Cacica seria importante ter profissionais indígenas nos hospitais para acolher de forma humanizada a comunidade indígena.
“Estamos planejando a realização de uma conferência em 2024 para que toda a população rio-grandina possa conhecer a realidade dos povos indígenas e as dificuldades que enfrentamos no acesso à saúde, como o racismo nos hospitais e em unidades básicas de saúde. Queremos envolver Ministério Público, Defensores dos Direitos Humanos e gestores hospitalares nessa conferência, para buscar melhorias no atendimento não só para os povos indígenas, mas também para a população negra e a população de baixa renda. Foi o contexto que discutimos, também, nesta tarde, e esperamos poder avançar com nossas propostas em 2024”, explicou a Cacica, destacando também o fato de que Rio Grande conta com quatro aldeias indígenas no seu território, duas Kaingangs e duas Guaranis.
A coordenadora adjunta do programa PPDDH, Elisângela Martin, disse que esses espaços são importantes para fortalecer o trabalho em rede intersetorial, estabelecer o diálogo entre trabalhadores e lideranças, oportunizar formação permanente enquanto ferramenta de trabalho, devendo ser reconhecido e garantido pelo gestor para todas as políticas, não apenas as de Saúde. “Através da formação, podemos avançar e fortalecer o trabalho em rede intersetorial, pois sabemos que o usuário não está restrito a uma única política. Esses espaços de diálogo e formação permitem essa percepção e conexão entre as redes para melhor cuidar do cidadão. Mesmo que o público seja pequeno, é importante que eles possam se tornar multiplicadores. A qualidade é mais importante do que a quantidade, pois um multiplicador pode alcançar e levar a mensagem para muitos outros. Portanto, se a intenção é multiplicar, não importa se são 5 ou 100 pessoas presentes”, concluiu a coordenadora.
ASSESSORIA -- PMRG