Navinésia Rungo veio de Inhambane, em Moçambique, localizado no sudeste da África. Graduada em Produção Pesqueira pela mais antiga instituição de ensino superior de Moçambique, a estudante buscava o próximo passo para sua vida profissional ou acadêmica. Foi então que ela descobriu, por meio de seu coorientador na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a oportunidade de cursar o mestrado de Aquicultura na Universidade Federal do Rio Grande por meio do programa do Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB).
Navinésia foi uma das estudantes selecionadas para cursar integralmente o curso de pós-graduação. Em fevereiro de 2023, se deslocou até Rio Grande, saindo de seu país pela primeira vez por motivos de estudo. Ao chegar na FURG, foi encaminhada para a Casa Internacional, onde passou parte de sua estadia. Navinésia conta que desde sua chegada, o acompanhamento dos colegas, da Reinter e da coordenação do curso estiveram presentes. Inicialmente, a informalidade das vestimentas, a falta dos pratos típicos de seu país e o clima rigoroso foram os primeiros aspectos em contraste com seu cotidiano em Inhambane.
Durante parte de sua estadia, Navinésia conta que residiu com outras duas estudantes, uma venezuelana e uma peruana. Através dessas amizades, desenvolveu o interesse pelo idioma espanhol e se dedicou a aprendê-lo, realizando o curso online da Universidade Nacional do Sur da Argentina, divulgado pela Reinter. Ainda destaca o papel dos brasileiros para sua inserção aos costumes do país. “Tenho muitos amigos brasileiros. Eles ensinam muito sobre a cultura brasileira, sobre como é a gastronomia. É interessante, sabe?”.
Os laços que Navinésia fez no Brasil foram essenciais para enfrentar as adversidades tão longe de casa. Navinésia relata que encontrou conforto com pessoas que passaram por preconceitos similares aos que ela sofreu no Brasil, como tratamentos e olhares nos meios de transporte ou supermercados, que a deixaram desconfortável. “Encontrei pessoas que se identificaram com essas barreiras, essas dificuldades, esses desafios, então isso foi mais fácil de saber como lidar, saber que não sou só eu. Não só por ser negra. (...) Embora para nós, como estudantes de estrangeiros africanos, sobretudo de negros, eu sinto que é ainda mais pesado essa questão do racismo”.
“Hoje em dia eu estou muito bem resolvida com relação a isso, nenhum olhar, nenhuma palavra traz nenhum questionamento sobre o meu tipo de pele, meu cabelo, meu fenótipo”, diz a estudante. Navinésia conta que, atualmente, consegue se manifestar quando esse tipo de situação ocorre, mas que nem sempre foi assim. “No início foi um pouquinho difícil, sobretudo por eu não saber ainda, não estar ainda muito bem localizada no sentido de estabelecida e ter essa voz de fala”.
“As dificuldades que eu enfrentei ou venho enfrentando não são nenhuma limitação ou não são maiores que a minha vontade de crescer profissionalmente, sobretudo academicamente”, diz a aluna. A moçambicana aponta a mobilidade acadêmica como um processo que engloba muito mais do que os estudos. “Não lidamos só com questões escolares, é uma escola de vivências, é uma escola de crescimento profissional, é uma escola onde aprendemos a nos relacionar com diferentes pessoas de diferentes cantos do país. Então eu preferi continuar, porque eu tive uma boa experiência no mestrado. Hoje em dia eu consigo fazer coisas que estavam somente nos meus sonhos”.
Após concluir seu mestrado com seis meses de antecedência, Navinésia se inscreveu para a seleção do Doutorado em Aquicultura na FURG, embarcando em mais um desafio acadêmico. “Eu aprendo com a minha permanência aqui e não tenho motivos para dizer que não vale a pena continuar. Não, eu tive forças, vontade de continuar porque aprendi muito no meu mestrado e pretendo continuar aprendendo nesse doutorado”, afirma Navinésia.
Ela explica que, após o mestrado, sente-se mais confiante para discutir temas da sua área, algo que antes fazia com certa insegurança devido às limitações de sua formação anterior. Além disso, essa evolução refletiu diretamente em seu desempenho nos laboratórios, onde passou a desenvolver análises com maior precisão e autonomia, aproveitando a estrutura da Universidade para aprimorar suas habilidades e aprofundar seus conhecimentos. “A FURG é uma instituição que tem capacidades, tem recursos no sentido de que tem laboratórios completos, é uma visão mais avançada, mais profunda, da que nós temos quando estamos no nosso país”, diz a aluna.
Para estudantes que sonham com a jornada internacional, Navinésia deixa um incentivo: “Eu encorajo essas pessoas a virem, porque é uma experiência muito boa. Como eu disse anteriormente, não é somente sobre formação, não é somente sobre um mestrado, um doutorado, um ‘pós-doc’. É sobre você estar imerso num lugar com uma cultura diferente, onde tem pessoas de diferentes cantos, e você poder colher experiências dessas outras pessoas que vão lhe agregar alguma coisa, algum valor, sabe, profissionalmente, ou para a vida mesmo.
ASSESSORIA-- FURG