Durante a semana de 15 a 21 de junho, o Rio Grande do Sul voltou a presenciar e conviver com os impactos causados por precipitações acima da média, com o registro de inundações e alagamentos na região central e norte do Estado. Em função da característica da Lagoa dos Patos, conectada aos rios dessas regiões, o Comitê de Eventos Extremos da FURG divulgou nesta quinta-feira, 26, o primeiro boletim informativo do ano, para explicar as condições climáticas e hidrológicas que deram origem ao atual cenário, bem como traçar o prognóstico do nível da Lagoa para os próximos dias.
Contexto
De acordo com o boletim, durante a semana em questão, estações meteorológicas do Estado registraram precipitações entre 98 e 381mm, o que gerou o aumento do nível dos rios e a inundação dos leitos maiores, causando danos em áreas urbanas e rurais, bem como em infraestruturas viárias do Rio Grande do Sul.
Os maiores acumulados de chuva ocorreram na região central e os menores no extremo sul do Estado. Esse acumulado de chuva deverá escoar por dois sistemas hidrográficos, um deles sendo o sistema Patos-Mirim, e o outro o Rio Uruguai, que corre no extremo norte do Rio Grande do Sul e na fronteira oeste.
Neste cenário, é importante destacar que apenas as chuvas acumuladas na Bacia Patos-Mirim chegarão à Lagoa dos Patos, onde escoarão em direção aos Molhes da Barra do Rio Grande. Ainda em tempo, os índices acumulados – em torno de 200 e 300 mm - são bastante inferiores aos registrados em maio de 2024. Os dados que embasam essa observação foram colhidos pelos equipamentos instalados e monitorados pela FURG ao longo da Lagoa dos Patos: a Rede de Monitoramento do Nível da Lagoa dos Patos, financiada pela Portos RS.
“O momento vivido é oportuno para reforçar a importância de termos um sistema contínuo de monitoramento e previsão. Cada evento de chuva, mesmo que com volumes menores do que o do ano passado, precisa ser acompanhado com atenção. A partir dessas informações, conseguimos antecipar cenários de risco e apoiar a tomada de decisão de gestores públicos e da defesa civil”, destaca a professora Elisa Fernandes, coordenadora do Centro Interinstitucional de Observação e Previsão de Eventos Extremos (Ciex).
Nível da Lagoa dos Patos e Prognóstico
Utilizando dados de três pontos monitorados na Lagoa dos Patos (Arambaré, São Lourenço do Sul e Rio Grande), o boletim traz uma série de informações sobre o comportamento do corpo d’água, tanto em relação ao histórico da semana anterior, quanto um prognóstico para os próximos dias.
De acordo com o documento, a partir do dia 19 de junho o nível da Lagoa dos Patos apresentou uma tendência de elevação em todas as estações, atingindo valores máximos nos dias 24 (Arambaré, 163 cm) e 25 de junho (São Lourenço, 148 cm; e CCMar-FURG, 108 cm).
Em Arambaré e São Lourenço do Sul, as cotas de inundação, respectivamente 175 cm e 160 cm, ainda não foram atingidas. Na estação CCMar-Rio Grande, a cota de inundação de 80 cm foi atingida nesta última quarta-feira, 25.
Importante destacar que, mesmo em locais onde a cota de inundação não é atingida na estação de monitoramento, condições de inundação podem ser observadas em pontos isolados da cidade, principalmente nas porções mais baixas dos terrenos continentais e das ilhas, e nos banhados e marismas.
Considerando a importância e relevância dos dados observados nas estações da Rede de Monitoramento do Nível da Lagoa dos Patos, a FURG e a Portos RS, por meio do Ciex, disponibilizaram um portal na web com a variação em tempo real registrada em cada um dos equipamentos instalados e em operação. Conforme a expansão do conjunto de equipamentos for avançando, novos pontos de dado serão adicionados ao site; confira essas e outras informações sobre a rede clicando aqui.
Previsão do comportamento da Lagoa
Considerando o cenário de inundação e a cota de inundação atingida na estação CCMar-Rio Grande, a previsão do comportamento do nível da Lagoa dos Patos para o período de 25 a 28 de junho apresenta algumas séries temporais horárias que estão disponíveis na íntegra no boletim ao final deste texto. A seguir, confira o prognóstico local para os três pontos monitorados citados acima.
Para a cidade de Arambaré, a previsão indica níveis máximos em torno de 1,60 m, ao longo do intervalo de tempo da previsão, com uma leve tendência de aumento. Em São Lourenço do Sul, a previsão indica níveis oscilando em resposta ao efeito do vento local, com leve tendência de aumento e atingindo a cota de inundação no final deste sábado, 28. Em Rio Grande, o nível oscila em torno da cota de inundação em vários momentos, o fenômeno se dá em função da previsão de ventos de quadrante sul.
Os dados acima apresentados são provenientes de uma simulação hidrodinâmica da Lagoa dos Patos, realizada pelo Laboratório de Oceanografia Costeira e Estuarina (Locoste), com base nas previsões hidrológicas do Grupo de Pesquisa Hidrologia de Grande Escala do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS).
Considerações
Por fim, destaca-se que a inundação que está ocorrendo nas margens da Lagoa dos Patos apresenta uma magnitude consideravelmente menor que a apresentada em maio de 2024. De acordo com as previsões do IPH/UFRGS, o nível do Guaíba atingiu seu máximo nesta última quarta-feira, 25, já se encontrando em caráter de estabilidade a partir desta quinta-feira, 26.
Por consequência da posição geográfica que a Lagoa dos Patos ocupa, o reflexo desse cenário será sentido nas cidades de Pelotas e Rio Grande em aproximadamente sete dias; e nas cidades de Arambaré e São Lourenço em cerca de três e cinco dias, respectivamente.
ASSESSORIA FURG