A pesquisa foi publicada em duas revistas internacionais
Um grupo de profissionais do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr. da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), vem desenvolvendo estudos sobre a coinfecção entre o Pegivírus humano tipo 1 (HPgV-1) e a infecção pelo HIV-1. A ideia da pesquisa surgiu após ser constatada evidências em outros estudos de que a infecção pelo HPgV-1 estaria associada a um efeito "protetor" aos indivíduos infectados pelo HIV-1.
A pesquisa rendeu ao grupo duas publicações em revistas internacionais, entre elas: "Journal of Medical Virology", com o artigo "Prevalence of Human Pegivirus (HPgV) Infection in Patients Carrying HIV-1 C or Non-C in Southern Brazil", e, recentemente, na "BioMed Research International", com o título "Molecular and Clinical Profiles of Human Pegivirus Type 1 Infection in Individuals Living with HIV-1 in the Extreme South of Brazil". Os estudos são resultado de uma parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e o Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Os objetivos das pesquisas abrangeram a prevalência do HPgV-1 na população HIV-1 positiva, como também, quais os genótipos circulantes, a influência deste agente e do tempo de sua persistência na evolução da infecção pelo HIV-1. Durante os estudos, 347 pacientes HIV-1 positivos, acompanhados pelo Serviço de Atendimento Especializado - Infectologia do HU-Furg/Ebserh, foram investigados para a positividade do HPgV-1 e fatores de risco para esta infecção. Em um segundo momento, 110 casos de pacientes coinfectados (HPgV-1/HIV-1) foram estudados. Foi investigado quais os genótipos circulantes do HPgV-1, quanto tempo este vírus persistia nos indivíduos e qual a influência deste agente na infecção pelo HIV-1.
De forma geral, como principais conclusões dos estudos, o grupo encontrou uma prevalência de 34% de coinfecção HPgV-1/HIV-1 - a maior até então relatada no Brasil; sendo identificados os genótipos 1 (2,8%), 2 (47,9% do subtipo 2a e 42,3% do subtipo 2b) e 3 (7%) do HPgV-1 em circulação. Foi observado que o efeito benéfico exercido pelo HPgV-1 frente à infecção pelo HIV-1 parece depender do genótipo viral. Indivíduos infectados pelo subtipo 2b do HPgV-1 tiveram uma maior sobrevida, ou seja, menores taxas de carga viral (CV) do HIV-1 e maiores contagens de células T CD4 + do que aqueles infectados pelo subtipo 2a do HPgV-1. Além disso, foi observado que a infecção pelo HPgV-1 persiste por anos e que o efeito benéfico do HPgV-1 parece ocorrer independente do tempo de sua persistência. No entanto, os mecanismos envolvidos nessa proteção ainda não estão totalmente elucidados.
Os pesquisadores, ligados ao HU-Furg, estão alocados no Laboratório de Carga Viral e Contagem de CD4+/CD8+ (Luísa Dias da Mota e Fabiana Finger-Jardim), no Serviço de Atendimento Especializado - Infectologia (Cláudio Moss da Silva, Maiba M. Nader, Rossana Patricia Basso, Carla V. Gonçalves e Jussara Silveira) e na Faculdade de Medicina (Karen Y. Sánchez Luquez, Andrea V. Groll, Vanusa P. Da Hora e Ana M. B. Martínez). Luísa destaca que "este grupo vem trabalhando há mais de seis anos na pesquisa da coinfecção entre o HIV-1 e o HPgV-1". Ela complementa que "a pesquisa foi um marco importante para nossa Universidade, já que, este foi o primeiro grupo de estudos a pesquisar o HPgV-1 no estado do Rio Grande do Sul. Antes dos nossos achados não se sabia se o HPgV-1 circulava no estado, muito menos nos pacientes HIV-1 desta região". Ela ainda destaca que "a descoberta não traz resultados clínicos imediatos, mas foi possível corroborar o que outros estudos sugeriram sobre os efeitos positivos deste agente viral no prognóstico dos pacientes infectados pelo HIV-1". Além disso, Luísa ressalta que "por mais que os resultados encontrados apontem para um efeito `protetor´ do HPgV-1 aos pacientes HIV-1, não podemos esquecer que as pesquisas com este agente viral são recentes, portanto, ainda não é possível saber se, a longo prazo, este vírus não cause algum efeito deletério nos indivíduos infectados. Para isso, mais estudos devem ser realizados em diferentes grupos populacionais".
Sobre o Laboratório de Carga Viral e Contagem de CD4+/CD8+
Em 03 de setembro de 1998, o Laboratório de Apoio à Aids, parte da Rede Nacional de Laboratórios de Carga Viral e CD4+ do Departamento de IST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde (MS), foi implantado no HU-Furg. O Laboratório de Carga Viral e Contagem de CD4+/CD8+, como é mais conhecido, é coordenado e financiado pelo MS, possui colaboradores ligados ao quadro de pessoal do HU, e visa o monitoramento da evolução clínica de indivíduos infectados pelo HIV e por Hepatites Virais. A unidade é responsável por atender a demanda laboratorial de pacientes de 28 municípios da região do sul do Rio Grande do Sul, realizando os testes de carga viral do HIV, HCV, contagem dos Linfócitos T CD4+/CD8+, Imunoblot rápido para HIV, encaminhamento de genotipagens e dosagem de HLA-B 5701.
Além do atendimento à população, o laboratório presta apoio à pesquisa científica, estabelecendo vínculo entre os alunos da graduação e/ou da pós-graduação e os profissionais do serviço. São realizadas pesquisas com parcerias diversas, o que fortalece o aprendizado e propicia a discussão de possíveis soluções e a caracterização epidemiológica da população atendida. No decorrer dos 20 anos de funcionamento do Laboratório de Carga Viral, já foram desenvolvidos diversos projetos de pesquisa, muitos resultaram em artigos publicados em revistas científicas internacionais.
Assessoria de Comunicação do HU-Furg/Ebserh