Pequenos frascos parecidos com miniaturas de tubos de ensaio são manuseados diariamente pelos servidores do Instituto-Geral de Perícias (IGP). Além da análise de drogas e exames de DNA, a rotina nos laboratórios envolve a verificação de diversas amostras de urina, sangue e tecidos humanos. Os resultados são usados como prova material na elucidação de crimes cometidos no Rio Grande do Sul. Em outras palavras, provas cabais que ajudarão a Justiça na condenação ou absolvição de réus acusados de roubo, homicídio ou tráfico de drogas entre outros crimes.
"Eu gosto bastante do meu trabalho. O que descobrimos aqui será algo muito útil para alguém", conta a perita criminal Fernanda Jardim, que atua há 10 anos no Departamento de Perícias Laboratoriais (DPL) do IGP, localizado na avenida Ipiranga, em Porto Alegre.
Formada em Farmácia, ela explica o funcionamento do cromatógrafo gasoso, aparelho capaz de avaliar 50 amostras diferentes de uma só vez. "A gente traz a amostra para este equipamento. Por que cromatógrafo gasoso? Porque a amostra é volátil, é um gás. Neste caso, é álcool etílico. Todas essas informações serão observadas em um computador", explica.
Outro equipamento de última geração utilizado no DPL é o cromatógrafo líquido em espectro de massa. Nome complicado para a execução de uma tarefa de fácil compreensão: identificar substâncias em material biológico. Por exemplo, veneno. "Identifica quase que a impressão digital da molécula," conta o diretor do DPL, Daniel Scolmeister. "Nós temos aqui vários daqueles equipamentos que as pessoas veem nas séries de TV", acrescenta.
O caso do iogurte
O fato é que a tecnologia, aliada ao trabalho desenvolvido pelos 63 funcionários do IGP dentro dos laboratórios, tem demonstrado a importância da toxicologia e da química forense no combate à criminalidade. Um caso recente foi o de uma mulher condenada em maio de 2019 a 29 anos e seis meses de prisão por dois homicídios. Os crimes ocorrerem em 2013, no município de Dom Feliciano, no sul do Estado, e só foram desvendados devido ao trabalho de duas peritas do IGP.
"O caso foi de uma madrinha que deu iogurte para o afilhado. Por meio de análises toxicológicas foi identificado um veneno nesse iogurte apreendido pela Polícia Civil. O mesmo veneno também foi encontrado no material biológico da criança. Como a avó do menino havia morrido meses antes de maneira semelhante, foi feita a exumação do corpo, onde encontramos exatamente a mesma substância. A investigação apontou que o veneno havia sido colocado no chimarrão da idosa", explica Scolmeister.
Para a diretora-geral do IGP, Heloísa Helena Kuser, o diferencial do órgão não é apenas a qualidade, mas também a agilidade do trabalho dos peritos. "É importante destacar os profissionais capazes de operar esses equipamentos de última geração. São muitas investigações. E mais velocidade na apuração significa um melhor atendimento ao cidadão", relata.
De acordo com Heloísa, um grande avanço será dado em 2020, ano de inauguração do Centro Regional de Excelência em Perícias Criminais do Sul, conhecido como a nova sede do IGP. O prédio, que conta com sete andares e fica ao lado da Secretaria de Segurança Pública (SSP), abrigará o DPL, o departamento de criminalística e a administração central do IGP. "O centro será referência para toda o sul do país. Se Santa Catarina e Paraná necessitarem de alguma análise pericial de ponta, daremos apoio", projeta a diretora-geral.
A nova sede do IGP está orçada em R$ 29,2 milhões. Realizada com recursos do governo federal (R$25,9 milhões) e contrapartida do governo do Estado (R$ 3,3 milhões), a obra está em estágio avançado, com 88% dos trabalhos concluídos.
Secom / Governo do RS