Sessão Especial marca a luta contra a Intolerância Religiosa
Variadas
Publicado em 04/11/2019

O dia municipal contra a intolerância religiosa foi marcado com uma sessão especial na Câmara de Vereadores. Os praticantes das religiões de matriz africana estiveram presentes na solenidade, que também encerrou as atividades da vinda do Bará do Mercado Público de Porto Alegre na cidade. A sessão foi proposta pelos vereadores André de Sá – Batatinha (PSD) e Charles Saraiva (MDB).

O Hino Nacional foi interpretado pelo cantor Veloir Santos. Após, os proponentes da cerimônia fizeram seus pronunciamentos.

André Batatinha disse estar feliz por poder comemorar mais um ano da lei, de sua autoria, que instituiu o 31 de outubro como o dia contra a intolerância religiosa. O vereador enfatizou que o poder legislativo está sempre aberto a todas as religiões.

Segundo ele, a sessão especial tem a finalidade de refletir sobre a intolerância religiosa. André reforçou que a intolerância é fruto da falta de esclarecimento, pois cada religião oferece a oportunidade de aproximação de Deus. Ele acredita que o exercício da fé faz com que as pessoas se tornem melhores, independente da crença.

Charles Saraiva lembrou que o dia 31 de outubro foi escolhido por ter sido a data em que a justiça reverteu uma decisão de fechamento de um terreno de matriz africana em Rio Grande, o Ile Axé Oxum e Xangô, casa de Oxum Taladê. A reversão ocorreu em 2003. A nova decisão afirmava que a sentença de fechamento do terreiro era fruto de preconceito e de desrespeito à diversidade religiosa.

Para o vereador, a data veio para reparar e homenagear a Mãe Graça D’Oxum Taladê, alvo dessa discriminação. Ele também reforçou que nenhum ser humano pode criticar o próximo por ter um segmento religioso diferente da sua concepção de fé. Ao ver o plenário lotado, Charles afirmou que ainda existe esperança, existe um futuro de pessoas que querem fazer o bem.

Ele enfatizou que o requerimento que propunha a sessão especial previa a vinda do Bará à Câmara. Explicou, no entanto, que os líderes religiosos decidiram não trazer a imagem em respeito as outras religiões. Ele parabenizou pela sabedoria e pela consciência, exemplo na busca de união e de respeito ao espaço do outro.

A celebração contou com apresentações culturais. O grupo Quebrada dos Grilhões realizou um desfile de roupas afro. Além disso, os alabês do Grupo Kizomba, de Porto Alegre, fizeram uma apresentação de tambores. Um vídeo produzido por eles foi exibido com o intuito de mostrar as festividades que envolveram a vinda do Bará do Mercado à cidade de Rio Grande, considerada o berço da tradição de matriz africana no estado. Pelo Porto, os negros e negras escravizados vieram para o Rio Grande do Sul e trouxeram o costume de culto aos Orixás.

Mãe Graça dD’Oxum ressaltou que as festividades que envolveram a vinda da imagem marcam a importância da consciência para as pautas do movimento religioso, que resistem a incompreensão de muitos. Ela desejou que a passagem do Bará do povo signifique a abertura de caminhos e de prosperidade para a cidade e que a chegada dele simbolize a aproximação do povo de Axé.

Ela também lembrou o episódio de preconceito que sofreu há 16 anos e afirmou se sentir orgulhosa de ver que sua batalha judicial inspirou a luta contra a intolerância religiosa em vários lugares do país.

O representante da ARUTEMA, André Brizolara, agradeceu aos poderes executivo e legislativo pelo acolhimento e apoio às religiões de matriz africana, pois têm respeitado o estado laico previsto na Constituição Federal. Em seu discurso, resgatou a luta do negro no país que, ao longo da história teve seus direitos negados, como o de votar e de ser votado, o de se alfabetizar e o de adquirir terras. Foi por meio da luta que se conseguiu a abertura de algumas portas.

O Baba Dida de Iyemanja, presidente do conselho do povo de terreiro do estado do RS e Coordenador da rede nacional de religião afro-brasileira e saúde, disse que Rio Grande dá o exemplo de que é possível exercitar o estado laico e a igualdade de direitos. Para ele, uma voz negra entoar o hino nacional reascende a esperança de inclusão.

O Baba Dida também salientou que o caso de tentativa de fechamento da Casa de Mãe Graça D’oxum, símbolo nacional de luta contra intolerância, é fruto do racismo religioso. Ao criar um dia municipal, a cidade reconhece o racismo em sua estrutura e se compromete a fazer ações para combatê-lo.

Além disso, mostrou preocupação com o momento atual vivido no país, em que terreiros estão sendo incendiados e pais e mães de santo, assassinados. Inclusive, citou que o Brasil foi denunciado por movimentos sociais à Organização dos Estados Americanos devido ao racismo religioso.

Depois de apresentar um vídeo falando sobre a importância da convivência harmoniosa entre as religiões, o representante do Conselho Nacional de Ensino Religioso no município, Reverendo Ramacés Hartwig falou da necessidade de diálogo e de uma ética global para que exista paz entre as religiões e entre as nações.

Conforme ele, o amor deve resumir todas as atitudes. Ramacés afirmou que aquele que não consegue respeitar outra crença deve desconhecer a sua própria religião. Também reforçou a importância de garantia do estado laico, que deve dar abertura a todas as manifestações de fé. Argumentou, ainda, que a sociedade precisa compreender que a expressão da divindade deve compreender a inclusão.

O prefeito Alexandre Lindenmeyer reforçou que trabalha para a prática do respeito à diversidade. Apesar de professar a própria fé, defendeu o respeito à pluralidade. Falou sobre a necessidade de políticas de reparação ao povo de matriz africana pelo genocídio sofrido. Por fim, salientou a necessidade do cultivo do carinho, do respeito e do amor.

Na solenidade, também esteve presente a filha do cantor Martinho da Vila, Makota Juju Ferreira D’ Kabila. Ela recebeu uma homenagem do alabê Flávio de Ogum, acompanhado de integrantes do Grupo Kizomba.

Makota agradeceu pela força, união e amor entre todos. Ela veio participar das festividades que envolveram a vinda do Bará. Destacou a energia de coragem, fé e força que cada um a ensinou nos dias em que esteve na cidade.

 A sessão especial foi aberta pela presidente do legislativo, Andréa Westphal. Em seguida, o vice-presidente André Lemes (PT), assumiu a condução da cerimônia. Além das autoridades e lideranças religiosas já citadas, participaram do evento o Pai Pedro de Oxum, do Templo Africano Oxum Brilham; a presidente do conselho municipal de desenvolvimento social da comunidade negra do Rio Grande, Eliane da Costa; o pai Jorginho D’Xangô; o pai Paulinho D’Xoroquê; a representante da secretaria de cultura, Goreti Butierres; os vereadores Rovam Castro (PT) e Júlio César (MDB).

 

Acessoria de Comunicação/Câmara Municipal do Rio Grande 

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