Durante mais de 100 dias a Operação Acolhimento tem trabalhado com pessoas em situação de rua, inicialmente como abrigo para prevenção ao Coronavírus, por meio do distanciamento social. Posteriormente a dinâmica foi alterada para uma Casa Lar, onde existem regras de convivência, o que permitiu que muitos apresentassem evolução em termos de comunicação e relacionamento. Esse trabalho, aliado às ações desenvolvidas no local que visam a diminuição do consumo de drogas, contribuiu para que 33 pessoas voltassem para suas residências ou de seus familiares.
Segundo Alisson Saggiomo, titular da Coordenadoria Municipal de Políticas Sobre Drogas e uma das responsáveis pela Operação Acolhimento, os números são expressivos. “Em tempo de pandemia as famílias tendem a estar mais abertas para receberem eles. Nesses 100 dias de atividade, o abrigo resultou em uma Casa Lar com ações para redução de danos, regras de convivência e com trabalho de direitos humanos muito forte que foi feito lá, fez com que muitos melhorassem a comunicação e conseguissem reatar a relação com a família. Foi um processo educativo”, destacou. Ela também acrescenta que, com o passar do tempo, os moradores passaram a ser mais comunicativos com as equipes técnicas, conversando mais sobre seus familiares. Em alguns casos, as equipes inclusive acompanharam visitas às famílias.
A Casa Lar é um espaço de moradia temporária para os albergados que estavam a mais de 45 dias no abrigo e que cumpriram os acordos do pacto de convivência e do distanciamento social. Ela é fruto do trabalho que iniciou abrigando 100 pessoas em situação de rua no Centro de Eventos como forma de prevenção ao Coronavírus, com a oferta de alimentação, atividades terapêuticas e recreativas, locais para higienização, além de espaços onde as pessoas recém chegadas permaneciam em distanciamento. Segundo Alisson, uma das grandes dificuldades ao longo do trabalho foi manter a proposta do distanciamento social e beneficiados longe das ruas, onde poderiam estar expostas ao vírus.
As mudanças de protocolos de segurança também influenciaram no serviço, pois com a flexibilização das atividades econômicas e retorno da movimentação, os moradores do abrigo também passaram a circular mais pela cidade. Assim, com o passar do tempo, o sistema acabou sendo modificado para se adequar ao cenário do município. “Transformar um abrigo em uma Casa Lar, dar condições de moradia e de se organizarem, fazerem higiene e melhorias na casa, terem um pacto de cooperação e convivência, é um importante resultado”, frisou Alisson.
Por problemas causados pela chuva, o serviço foi deslocado do Centro de Eventos para da Casa de Formação da Igreja Católica, que foi cedida como forma de apoiar o trabalho realizado. O local fica na Rua Presidente Vargas, 823, e conta com 13 quartos, uma cozinha, uma dispensa, um refeitório, uma sala de palestras, uma sala para acolhimento e três banheiros. Também existe uma área para lavagem e secagem de roupas, além de um pátio interno.
A casa hoje atende 28 moradores por meio de uma rotina específica, com oferta de 4 refeições diárias (café da manhã, almoço, café da tarde e janta), além de um cronograma de atividades para todos os dias, que inclui grupos terapêuticos, cinema e arte, oficinas de redução de danos e assembleias. No local atuam equipes do Consultório de Rua da Secretaria de Saúde, do Serviço Especializado em Abordagem Social da Secretaria de Cidadania e Assistência Social (SMCAS), do Centro de Referência Especializado em Assistência Social para População em Situação de Rua (Centro POP), também da SMCAS, e da Guarda Municipal, além do apoio da Secretaria de Controle e Serviços Urbanos (SMCSU) e da Defesa Civil.
Como forma de retribuir a cedência do espaço, os moradores estão realizando a manutenção da propriedade, restaurando móveis, como camas e mesas, e até um fogão industrial. Também fazem toda a limpeza do local, com a lavagem de paredes e janelas, corte de grama, além da higienização dos quartos e demais espaços coletivos, o que é feito todos os dias na parte da manhã. A SMCSU tem apoiado com ferramentas, materiais de limpeza e equipamentos, além de auxiliar em algumas atividades, como adequação dos chuveiros e rede elétrica.
Uma das propostas da Casa Lar, conforme Alisson, é a desinstitucionalização, incentivando a independência dos moradores, para “que eles tenham a vida deles, que se reorganizem e tenham autonomia”. Nesse sentido, ela reforça a importância de os moradores procurarem seus familiares e sua rede de apoio. Além disso, no local é prestado auxílio no cadastro e recebimento de programas sociais. A partir dessa proposta de autogestão dos recursos financeiros e benefícios governamentais, ela conta que cinco moradores usaram os recursos para o aluguel de moradias ou pensões.
Ainda segundo Saggiomo, uma das partes mais importantes do trabalho da Operação Acolhimento são as ações pensadas para reduzir o uso de álcool e outras drogas. As equipes técnicas envolvidas na proposta têm realizado importante trabalho para incentivar a diminuição do consumo, por meio das oficinas de redução de danos, o que também contribui para uma melhor convivência no local. Foi a partir disso que muitos moradores retomaram contatos com suas famílias. No local foi montada uma sala com computadores e acesso à internet, o que ajudou no contato.
Entretanto, ela ressalta que, principalmente em função do abuso de drogas, muitas pessoas não conseguiram se adaptar as normas e acabaram deixando o abrigo. Destas, 20 são atendidas pela Assoran, que conta com convênio com o município e oferta alimentação e pernoite. Outras 18 voltaram às ruas pois não se adaptam a espaços coletivos institucionais, sejam eles de convivência ou pernoite, e 7 possuem rotatividade entre os abrigos e as ruas.
Assessoria de Comunicação ; PMRG