Uma pesquisa conduzida pela FURG no litoral do Rio de Janeiro ao longo dos últimos três anos, agora, prestes a chegar ao seu final, apresenta os resultados à comunidade sob a forma de documentários. Até o momento, são duas produções audiovisuais, uma centrada nos impactos de atividades econômicas sobre comunidades pesqueiras artesanais e outra sobre as questões enfrentadas especificamente pelas mulheres pescadoras. Os documentários estão disponíveis no YouTube e também na programação da FURG TV. A equipe agora trabalha em mais produções audiovisuais.
O projeto “Avaliação de Impacto Social: uma leitura crítica sobre os impactos de empreendimentos marítimos de exploração e produção de petróleo e gás sobre as comunidades pesqueiras artesanais situadas nos municípios costeiros do Rio de Janeiro” é conduzido no Laboratório Interdisciplinar Maréss , no Campus São Lourenço do Sul. As pesquisas do laboratório se dedicam a mapeamento em ambientes, resistência, sociedade e solidariedade.
O projeto em documentário
Impactos na pesca: o projeto em documentário apresenta, em 20 minutos, depoimentos de pescadores e pescadoras sobre os impactos da produção de petróleo e gás e também do turismo sobre as comunidades pesqueiras artesanais do Rio. Além disso, professoras e pesquisadoras da FURG e de outras instituições contam sobre a realização da pesquisa e a elaboração de Projetos de Educação Ambiental (PEA) e Planos de Compensação da Atividade Pesqueira (PCAP). A produção está disponível no YouTube e também pode ser conferida abaixo.
“O nosso objetivo é olhar de forma mais específica para os impactos indústria do petróleo sobre os pescadores artesanais, para daí propor melhorias, ao mesmo tempo em que olhamos para as medidas que são exigidas no licenciamento, que hoje têm esse objetivo de mitigar os impactos sociais”, explica a coordenadora do projeto, Tatiana Walter. A pesquisa, que envolve uma grande equipe, é realizada no Rio de Janeiro, com recursos de um Termo de Ajustamento de Conduta do Ibama e Ministério Público Federal como medida compensatória da empresa Chevron pelo derramamento de petróleo no campo de Frade, na Bacia de Campos, em 2011.
Do litoral fluminense, o trabalho também reverbera no sul: “O recorte da pesquisa é com pescadores do Rio de Janeiro, mas quando começamos a trabalhar, desenvolvemos uma metodologia que é pertinente para todo o litoral brasileiro. A ideia é trazer isso aqui para o litoral do RS e também para a Lagoa dos Patos”, projeta Tatiana.
“Mapeamento de conflitos ambientais não é uma coisa nova, mas trouxemos elementos específicos para pensar a questão da pesca”, conta a coordenadora do projeto. Ela completa: “O objetivo da pesquisa é o de aprimorar a avaliação de impacto ambiental por meio de uma análise crítica sobre os impactos gerados aos/as pescadores/as artesanais pela indústria do petróleo e das medidas destinadas à mitigá-los”. A equipe elaborou um mapeamento dos conflitos ambientais que impactam pescadores, que pode ser acessado aqui , num mapa interativo. O banco de dados elaborado para a pesquisa também tem acesso aberto, disponível no site do Laboratório Maréss.
“Uma das metas é a divulgação dos resultados não só para o público acadêmico, mas também para gestores de políticas públicas e a sociedade em geral. E aí surgiu a ideia de fazer os vídeos”, conta Tatiana. Para isso, foi contratada a pesquisadora e produtora audiovisual Rachel Hidalgo. Paulista, de Santos, Rachel veio a Rio Grande para cursar o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental da FURG, em que hoje é doutoranda.
“Eu faço parte do coletivo Noise, da Baixada Santista, desde antes de me mudar para Rio Grande e continuo trabalhando com eles. Quando a gente começou a pensar a gravação no Rio, entramos em contato com uma produtora pequena de Niterói, a Portal. Depois, os materiais foram editados por mim. São todas produtoras independentes que fomos envolvendo para tornar possível a produção”, relata Rachel.
Mulheres pescadoras
Se o primeiro documentário teve como objetivo contar sobre a pesquisa, no segundo, entra em cena outra questão: dar visibilidade às mulheres pescadoras. Esse não era um dos objetivos da pesquisa, mas, percebido, ganhou relevância e resultou na produção Eu sou pescadora, também disponível no YouTube. “Buscamos com um grupo de pesquisa da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro mostrar o trabalho das pescadoras e dar visibilidade a isso. Porque grande parte do impacto que elas sofrem são oriundos dessa falta de reconhecimento da atividade pesqueira”, lembra Tatiana Walter.
Além de mulheres do litoral fluminense, figuram na produção mulheres gaúchas. “Quando a gente foi construir o documentário pensamos em trazer também o relato das mulheres do Sul, com as quais a gente já trabalha em outros projetos. A ideia é que a gente construa esses documentários, mas que não fiquem restritos à pesquisa e não fiquem datados. Quisemos dar uma maior temporalidade, para que sirvam para quem, por exemplo, quer trabalhar com gênero e pesca. Queremos que o vídeo possa ser usado em reuniões, disciplinas, atividades”, conta Tatiana.
Rachel, a realizadora audiovisual, destaca que a história das mulheres pescadoras é contada essencialmente por mulheres, comunicadoras ou pesquisadoras. “Na pesquisa são muitas mulheres. Neste trabalho, como pessoa que está com a câmera na mão, estou produzindo discursos a partir do discurso de outras mulheres – então todos os filtros foram feitos por mulheres.”. Houve participações masculinas também, ela lembra, em etapas como as artes e a finalização do vídeo, mas o principal do trabalho, feito por mulheres.
O olhar feminino foi fundamental para enxergar as questões que parecem não estar visíveis aos olhos de todos e que são abordadas no documentário. “As pessoas acham que não existe pescadora, acham que a gente é só mulher de pescador”, protesta Viviane Alves, a pescadora que abre o documentário e que é também liderança local em Rio Grande. “Não reconhecem a nossa profissão, seja na saúde, ou na educação. Pensam que é uma vergonha ser pescador ou pescadora, que é uma vida infeliz. Não reconhecem o pescador artesanal. E se não reconhecem o pescador, imagina a pescadora!”.
Viviane começou a pescar junto com o esposo e hoje o filho, de 18 anos, também está na atividade. O preconceito, ela conta ao portal furg.br, não está só na comunidade, mas também entre os que realizam a própria atividade. “Antigamente os homens não aceitavam que a gente fosse ao mar. A nossa classe aqui é muito machista”. No vídeo, Viviane e outras mulheres relatam como enfrentaram o preconceito para se firmarem na atividade e os desafios que seguem enfrentando.
“Para mim ser pescadora significa liberdade. Eu faço meu horário. Vivemos muito bem, não passamos fome, não vivemos de cartão de crédito. Temos a melhor alimentação, porque o melhor peixe sempre vem para casa. A gente não come peixe de gelo”, conta Viviane. O frio traz desafios, assim como a dupla ou tripla jornada, com a atribuição das atividades do lar e da família quase que exclusivamente às mulheres. Ao mesmo tempo em que buscam reconhecimento e garantia de direitos, principalmente na área da saúde, as mulheres pescadoras, conta Viviane, veem a organização trazer resultados. “A gente faz reuniões e hoje tem bastante mulheres. A gente conseguiu trazer mais protagonismo para a mulher pescadora, até para ela se soltar e gritar que é pescadora. Para dar visibilidade e se empoderar. Antes as mulheres não sabiam das leis, se o marido não falava, não sabia”.O projeto em documentário
Impactos na pesca: o projeto em documentário apresenta, em 20 minutos, depoimentos de pescadores e pescadoras sobre os impactos da produção de petróleo e gás e também do turismo sobre as comunidades pesqueiras artesanais do Rio. Além disso, professoras e pesquisadoras da FURG e de outras instituições contam sobre a realização da pesquisa e a elaboração de Projetos de Educação Ambiental (PEA) e Planos de Compensação da Atividade Pesqueira (PCAP). A produção está disponível no YouTube e também pode ser conferida abaixo.
“O nosso objetivo é olhar de forma mais específica para os impactos indústria do petróleo sobre os pescadores artesanais, para daí propor melhorias, ao mesmo tempo em que olhamos para as medidas que são exigidas no licenciamento, que hoje têm esse objetivo de mitigar os impactos sociais”, explica a coordenadora do projeto, Tatiana Walter. A pesquisa, que envolve uma grande equipe, é realizada no Rio de Janeiro, com recursos de um Termo de Ajustamento de Conduta do Ibama e Ministério Público Federal como medida compensatória da empresa Chevron pelo derramamento de petróleo no campo de Frade, na Bacia de Campos, em 2011.
Do litoral fluminense, o trabalho também reverbera no sul: “O recorte da pesquisa é com pescadores do Rio de Janeiro, mas quando começamos a trabalhar, desenvolvemos uma metodologia que é pertinente para todo o litoral brasileiro. A ideia é trazer isso aqui para o litoral do RS e também para a Lagoa dos Patos”, projeta Tatiana.
“Mapeamento de conflitos ambientais não é uma coisa nova, mas trouxemos elementos específicos para pensar a questão da pesca”, conta a coordenadora do projeto. Ela completa: “O objetivo da pesquisa é o de aprimorar a avaliação de impacto ambiental por meio de uma análise crítica sobre os impactos gerados aos/as pescadores/as artesanais pela indústria do petróleo e das medidas destinadas à mitigá-los”. A equipe elaborou um mapeamento dos conflitos ambientais que impactam pescadores, que pode ser acessado aqui , num mapa interativo. O banco de dados elaborado para a pesquisa também tem acesso aberto, disponível no site do Laboratório Maréss.
“Uma das metas é a divulgação dos resultados não só para o público acadêmico, mas também para gestores de políticas públicas e a sociedade em geral. E aí surgiu a ideia de fazer os vídeos”, conta Tatiana. Para isso, foi contratada a pesquisadora e produtora audiovisual Rachel Hidalgo. Paulista, de Santos, Rachel veio a Rio Grande para cursar o mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental da FURG, em que hoje é doutoranda.
“Eu faço parte do coletivo Noise, da Baixada Santista, desde antes de me mudar para Rio Grande e continuo trabalhando com eles. Quando a gente começou a pensar a gravação no Rio, entramos em contato com uma produtora pequena de Niterói, a Portal. Depois, os materiais foram editados por mim. São todas produtoras independentes que fomos envolvendo para tornar possível a produção”, relata Rachel.
Mulheres pescadoras
Se o primeiro documentário teve como objetivo contar sobre a pesquisa, no segundo, entra em cena outra questão: dar visibilidade às mulheres pescadoras. Esse não era um dos objetivos da pesquisa, mas, percebido, ganhou relevância e resultou na produção Eu sou pescadora, também disponível no YouTube. “Buscamos com um grupo de pesquisa da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro mostrar o trabalho das pescadoras e dar visibilidade a isso. Porque grande parte do impacto que elas sofrem são oriundos dessa falta de reconhecimento da atividade pesqueira”, lembra Tatiana Walter.
Além de mulheres do litoral fluminense, figuram na produção mulheres gaúchas. “Quando a gente foi construir o documentário pensamos em trazer também o relato das mulheres do Sul, com as quais a gente já trabalha em outros projetos. A ideia é que a gente construa esses documentários, mas que não fiquem restritos à pesquisa e não fiquem datados. Quisemos dar uma maior temporalidade, para que sirvam para quem, por exemplo, quer trabalhar com gênero e pesca. Queremos que o vídeo possa ser usado em reuniões, disciplinas, atividades”, conta Tatiana.
Rachel, a realizadora audiovisual, destaca que a história das mulheres pescadoras é contada essencialmente por mulheres, comunicadoras ou pesquisadoras. “Na pesquisa são muitas mulheres. Neste trabalho, como pessoa que está com a câmera na mão, estou produzindo discursos a partir do discurso de outras mulheres – então todos os filtros foram feitos por mulheres.”. Houve participações masculinas também, ela lembra, em etapas como as artes e a finalização do vídeo, mas o principal do trabalho, feito por mulheres.
O olhar feminino foi fundamental para enxergar as questões que parecem não estar visíveis aos olhos de todos e que são abordadas no documentário. “As pessoas acham que não existe pescadora, acham que a gente é só mulher de pescador”, protesta Viviane Alves, a pescadora que abre o documentário e que é também liderança local em Rio Grande. “Não reconhecem a nossa profissão, seja na saúde, ou na educação. Pensam que é uma vergonha ser pescador ou pescadora, que é uma vida infeliz. Não reconhecem o pescador artesanal. E se não reconhecem o pescador, imagina a pescadora!”.
Viviane começou a pescar junto com o esposo e hoje o filho, de 18 anos, também está na atividade. O preconceito, ela conta ao portal furg.br, não está só na comunidade, mas também entre os que realizam a própria atividade. “Antigamente os homens não aceitavam que a gente fosse ao mar. A nossa classe aqui é muito machista”. No vídeo, Viviane e outras mulheres relatam como enfrentaram o preconceito para se firmarem na atividade e os desafios que seguem enfrentando.
“Para mim ser pescadora significa liberdade. Eu faço meu horário. Vivemos muito bem, não passamos fome, não vivemos de cartão de crédito. Temos a melhor alimentação, porque o melhor peixe sempre vem para casa. A gente não come peixe de gelo”, conta Viviane. O frio traz desafios, assim como a dupla ou tripla jornada, com a atribuição das atividades do lar e da família quase que exclusivamente às mulheres. Ao mesmo tempo em que buscam reconhecimento e garantia de direitos, principalmente na área da saúde, as mulheres pescadoras, conta Viviane, veem a organização trazer resultados. “A gente faz reuniões e hoje tem bastante mulheres. A gente conseguiu trazer mais protagonismo para a mulher pescadora, até para ela se soltar e gritar que é pescadora. Para dar visibilidade e se empoderar. Antes as mulheres não sabiam das leis, se o marido não falava, não sabia”.