Duzentos e setenta especialistas em cetáceos de todo o mundo assinaram uma declaração aberta aos líderes globais apelando à ação para resolver urgentemente a situação precária de muitas populações de baleias, botos e golfinhos (conhecidos coletivamente como 'cetáceos'), muitos dos quais enfrentam ameaças de extinção devido a interações com atividades humanas, como captura acidental em petrechos de pesca, poluição química e sonora, aquecimento global e colisões com embarcações. Pesquisadores da FURG também estão entre os integrantes do manifesto, que ganhou versão trilíngue.
Os cientistas afirmam que, das 90 espécies vivas de cetáceos, mais da metade estão num estado de conservação preocupante, e a tendência de ação tardia ou insuficiente deve acabar. Sem ação urgente, eles preveem que a baleia-franca do Atlântico Norte pode desaparecer, junto com a vaquita, endêmica do México, criticamente ameaçada e que está à beira da extinção.
Assinada por alguns dos principais cientistas cetáceos do mundo de mais de 40 países, a declaração adverte: “A falta de ação concreta para enfrentar as ameaças que afetam negativamente os cetáceos em nossos mares cada vez mais ocupados, poluídos, superexplorados e dominados pelo homem e nos principais sistemas fluviais, significa que muitas [populações], uma após a outra, provavelmente serão declaradas extintas em nossa geração ... Baleias e golfinhos são vistos e apreciados em todo o mundo e são avaliados como espécies sensíveis, inteligentes, sociais e inspiradoras; não devemos negar às gerações futuras a oportunidade de conhecê-las. Eles também são sentinelas da saúde de nossos mares, oceanos e, em alguns casos, dos principais sistemas fluviais e o papel dos cetáceos na manutenção de ecossistemas aquáticos produtivos, que são fundamentais para nossa sobrevivência, bem como a deles, também está se tornando mais claro.” Um número alarmante de espécies de cetáceos está em perigo, com 13 espécies classificadas como 'Criticamente Ameaçadas' ou 'Ameaçadas', sete como 'Vulneráveis' e sete como 'Quase Ameaçadas', enquanto 24 espécies são 'Deficientes em Dados' que permitam uma avaliação, e também podem estar em perigo. Além disso, existem 32 subespécies e outras populações distintas de cetáceos que estão "atualmente em perigo" ou "criticamente em perigo".
Baleias e golfinhos são adversamente afetados por muitos fatores induzidos pelo homem, incluindo poluição química e sonora, perda de habitat e presas, mudanças climáticas, colisões com navios e captura acidental em operações de pesca. Os cientistas conclamam os países com a presença de cetáceos em suas águas jurisdicionais a tomarem medidas preventivas o mais rápido possível para proteger estas espécies das atividades humanas, incluindo o monitoramento das atividades marítimas com todos os recursos disponíveis.
Organismos internacionais, como a Comissão Baleeira Internacional e a Convenção para a Conservação de Espécies Migratórias de Animais Silvestres, também devem ser fortalecidos e apoiados por todas as nações, e os órgãos regionais de pesca devem abordar urgentemente as ameaças aos cetáceos relacionadas à pesca.
O documento na íntegra, em português, pode ser acessado aqui.
A declaração foi coordenada por Mark Simmonds, pesquisador visitante da University of Bristol (Reino Unido) e cientista marinho sênior da Humane Society International. Ele explica: “Embora algumas populações de baleias estejam mostrando recuperação - ilustrando que bons resultados são possíveis quando as pressões adversas são adequadamente removidas - muitas outras populações de cetáceos estão em declínio e algumas estão criticamente ameaçadas. Esta declaração sem precedentes de grande preocupação de especialistas de todo o mundo nasceu principalmente de discussões no Comitê Científico da Comissão Baleeira Internacional, nas quais se tornou aparente que muitos pesquisadores estavam preocupados com o status das populações de cetáceos estudadas por eles. É vital que aprendamos com os erros do passado e não demoremos muito para salvar alguns dos maiores animais da Terra. Que este seja um momento histórico em que perceber que as baleias estão em perigo desencadeia uma poderosa onda de ação de todos, gestores, cientistas, políticos e do público para salvar nossos oceanos.” A doutora Els Vermeulen, da Whale Unit - University of Pretoria (África dos Sul), que ajudou a coordenar a declaração, acrescenta: “Esta é uma demonstração única de preocupação da comunidade científica de todo o mundo. Em relação a muitas outras espécies, os cetáceos têm vida longa e reprodução lenta, tornando-os extremamente vulneráveis a distúrbios que podem levar a impactos populacionais, como poluição sonora e química. Para muitos, a ameaça número um é a captura, intencionalmente ou não, nas redes de pesca. Precisamos de medidas a serem implementadas com urgência para lidar com todas essas ameaças.”
"Estou muito contente de ver este engajamento mundial de cientistas clamando atenção para este assunto relevante e urgente", afirma o professor Eduardo R. Secchi, do Laboratório de Ecologia e Conservação da Megafauna Marinha (Ecomega) do Instituto de Oceanografia da FURG. "Apesar do amplo conhecimento científico em muitos casos, populações e espécies de baleias e golfinhos continuam diminuindo e estão, a cada dia, um passo mais perto da extinção. Precisamos agir com rapidez e coordenação para combater a falta de vontade política", completa ele.
O doutor Giuseppe Notarbartolo di Sciara, fundador do Tethys Research Institute (Itália) e conselheiro para mamíferos aquáticos na Convenção das Nações Unidas sobre Espécies Migratórias, comenta ainda: “Já é hora de políticos e legisladores reconhecerem que estamos colocando uma pressão anormal sobre os sistemas marinhos e que os cetáceos são altamente vulneráveis às nossas atividades. A expansão da proteção efetiva do habitat em todo o oceano e nas águas interiores do mundo, inclusive em alto-mar além das jurisdições nacionais, será fundamental na proteção necessária para esses animais”, diz.
Natacha Aguilar de Soto, da Universidad de La Laguna (Espanha), acrescenta: “Precisamos reconhecer que as baleias e os golfinhos são essenciais para manter a saúde dos ecossistemas marinhos e, com isso, a saúde do planeta e nossa própria segurança. Os oceanos são o primeiro controlador das mudanças climáticas e a principal fonte de proteína para milhões de pessoas em todo o mundo. As baleias fertilizam os oceanos e assim aumentam a produtividade do fitoplâncton, que consome 40% do dióxido de carbono que os humanos liberam para a atmosfera, produz metade do oxigênio que respiramos e é a base das teias alimentares marinhas. Salvar as baleias não é idealismo, é salvar nosso planeta e a nós mesmos”, declara.
Assessoria de Comunicação - FURG