Dias após a suspensão das atividades presenciais no campus Capão do Leão da Universidade Federal de Pelotas (final de março de 2020), em razão da disseminação e contaminação pelo até então novo coronavírus, o grupo de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGB) do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDTec) se mobilizou para desenvolver testes sorológicos nacionais para diagnóstico da COVID-19.
Hoje, seis meses após a iniciativa de querer auxiliar no enfrentamento a pandemia, o grupo de pesquisa liderado pelos professores Fabricio Conceição (CDTec/PPGB), Luciano Pinto (CDTec/PPGB), Alan McBride (CDTec/PPGB) e Ângela Moreira (FN/PPGB) desenvolveu antígenos e testes capazes de detectar os principais anticorpos desenvolvidos durante uma infecção por SARS-CoV-2, o vírus responsável pela pandemia de COVID-19.
Diante da demanda inicial de identificar cidadãos infectados e cientes da necessidade de acompanhamento do perfil imune da população brasileira, o grupo de pesquisa se dedicou a desenvolver os antígenos e preconizou sua validação em testes do tipo ELISA, um método laboratorial qualitativo e quantitativo que além de identificar pessoas que tiveram contato com o vírus (presença de anticorpos específicos), é capaz de acompanhar o aumento ou o decréscimo de anticorpos. Anticorpos são moléculas produzidas pelo sistema imunológico que estão presentes no sangue e outros fluídos corpóreos, capazes de nos proteger contra a maioria das doenças.
Para isso, a pesquisa foi estabelecida em 3 etapas principais: seleção e desenvolvimento dos antígenos, validação do produto e a aplicação dos testes. As duas primeiras etapas já estão finalizadas e os antígenos já se encontram disponíveis e validados para a produção de testes de diagnóstico in house e para pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Antígenos inovadores
Apoiados por uma dedicada equipe multidisciplinar com excelência em diferentes áreas, o grupo de pesquisa desenvolveu antígenos exclusivos: enquanto a maioria dos testes sorológicos disponíveis no mercado utiliza apenas uma proteína viral, a equipe utilizou ferramentas inovadoras de bioinformática e engenharia genética para desenvolver e combinar diferentes proteínas virais, que foram testadas com soros de pessoas de todas as cinco regiões do Brasil.
A testagem com mais de mil amostras séricas nacionais é outro diferencial da pesquisa e uma vantagem frente aos testes importados, que desconsideram os aspectos genéticos, socioeconômicos e ambientais inerentes às populações, o que pode afetar o desempenho do teste, de sensibilidade e especificidade, e, consequentemente, o controle da doença. Assim, a validação com soros das mais diversas regiões do Brasil reduz a possibilidade de reações cruzadas com doenças endêmicas do país e favorece a especificidade do diagnóstico.
O emprego dessas tecnologias resultou na produção de antígenos que, utilizados em teste de sorodiagnóstico, fornecem qualidade equiparada aos melhores testes disponíveis no mercado e superior àqueles mais utilizados no país.
Entretanto, os antígenos não se limitam aos testes de ELISA e estão sendo atualmente testados por outros grupos de pesquisa na produção de soros hiperimunes em cavalos, destinados ao tratamento da COVID-19, e no desenvolvimento de plataformas de diagnóstico rápido mediante nanotecnologia, como biossensores e ensaios imunocromatográficos (Point of Care). Os resultados obtidos até então já permitem a disponibilização dos antígenos e do teste de diagnóstico (ELISA) à comunidade, cuja tecnologia será licenciada pela Helper, uma startup de biotecnologia fundada por alunos da própria UFPel.
Para o professor Fabrício Rochedo, integrante do grupo que desenvolveu o estudo, uma iniciativa como essas é a mostra de como a ciência é fundamental para o avanço da sociedade: “Superaremos esta crise através da ciência e neste contexto, apesar de todos os obstáculos impostos à ciência e educação no Brasil. Cientistas costumam ser invisíveis aos olhos da sociedade no dia a dia, mas em situações como a que estamos enfrentando, ganham notória visibilidade e credibilidade.”
Próximos passos
Enquanto isso, a equipe continua se dedicando a produção dos antígenos para colaborar com outros grupos de pesquisa do próprio PPGB, mas também do PPGs em Ciência e Engenharia de Materiais e em Veterinária e do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina, assim como de outras instituições, como o Instituto Federal Farroupilha e o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás.
O trabalho recebeu financiamento de um edital de fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e, com o auxílio deste, conseguiu condições financeiras de executar a pesquisa em tempo recorde para a área. A pesquisa recebeu, além disso, apoio e colaboração do Hospital Escola da UFPel, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (ES), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Goiás (UFG), Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira (AM).
Assessoria de Comuniccação - UFPEL