A voz autoral e a verdade da escrita. Três perguntas para Alejandro Palomas
Novidades
Publicado em 31/01/2020

O premiado escritor espanhol participa de duas atividades literárias na 47ª Feira do Livro da FURG

 

Na próxima sexta-feira, 31, e no domingo, 2 de fevereiro, a 47ª Feira do Livro da FURG recebe o escritor, tradutor e filólogo espanhol Alejandro Palomas para duas atividades bastante aguardadas no Espaço Literário. A oficina de escrita criativa “El miedo, la escritura y la voz” e o Papo Literário, em comemoração aos 25 anos do curso de Espanhol da universidade.

Autor de 18 obras, entre as quais a trilogia Una madre (Siruela, 2014), Un hijo (Bridge, 2015) e Un perro (Destino, 2016), que tem o mote da família como universo temático, Alejandro Palomas foi finalista e vencedor de diversos prêmios literários; em 2018, venceu o Premio Nadal por Un amor (Destino, 2018).

 

 

A oficina de escrita criativa “El miedo, la escritura y la voz”, que acontece no dia 31, às 19h, é voltada ao público interessado em escrever e em conhecer processos de escrita. É recomendada a leitura prévia do livro Una madre, do autor. Com vagas limitadas, as inscrições são gratuitas e estão abertas até o dia da atividade, pelo Sistema de Inscrições FURG

A seguir, o escritor conta um pouco sobre sua trajetória com a escrita e sobre a oficina que irá ministrar na feira.

 

Tua história com a escrita, com a literatura, começa como e até onde tem te trazido?

Minha história como escritor, ou com a escrita, começa quando eu era muito pequeno, um menino. Acredito que aos seis anos, aproximadamente, quando me trocam de colégio e vou para um colégio inglês bem pequeno, por circunstância do trabalho do meu pai. Nos mudamos de cidade e vou parar em um colégio religioso, com 40 alunos por sala. Só meninos, não misto. E a partir deste momento muda também um pouco minha percepção de mundo, me encerro muito em mim mesmo. Me sinto muito alheio ao que me rodeia e a partir de então necessito contar a realidade, ou recontar a realidade. E acredito que nesse momento é quando começo a me converter em um contador, um contador de histórias para sobreviver. Porque recordo minha infância como uma infância muito infeliz. Daí que eu sempre tenha a sensação de que minha faceta como contador, como fabulador, nasce da necessidade de reinterpretar a realidade, porque me faz muito dano.

Como te relacionas com teu processo criativo e de que forma nascem teus livros?

 

Minha forma de me relacionar com meu processo criativo é muito visceral. Sou um escritor muito intuitivo. Apenas construo a arquitetura literária, nunca sei o que vou escrever no dia seguinte, nunca sei como vão terminar nem como vão continuar as minhas histórias, escrevo um pouco às cegas. Escrevo às cegas porque acredito que é preciso confiar no inconsciente na hora de escrever e, por outro lado, se crio a arquitetura de uma novela ou da história que vou contar, não preciso contá-la, porque não há surpresa para mim. Sou muito leitor de minha escrita. Uma vez que escrevo, sou também leitor, com o que preciso surpreender-me constantemente e necessito viver em primeira pessoa o que estou escrevendo. Daí que minha relação com o que escrevo é muito próxima, praticamente não há filtro. E sempre digo o mesmo: sou o que escrevo. Quando as pessoas me conhecem, normalmente se surpreendem, porque me dizem “que curioso, porque o lendo e conhecendo, percebe-se que é o mesmo”. E isso é o que eu valorizo na escrita, a verdade. Tenho muitos defeitos na hora de escrever, mas acredito que tenho uma virtude, é que minha escrita é verdade. Sempre encontras verdade no que escrevo e por isso chega de forma muito direta.

 

Sobre a oficina, que experiência criativa pode esperar viver quem for participar de “El miedo, la escritura y la voz”, na 47ª Feira do Livro da FURG?

É uma oficina muito especial, que não foi dada em nenhum outro lugar. E por isso acredito que seja necessário ministrá-la e trabalhar muito no aspecto que trabalho, que é a voz. Muita gente que quer escrever, e que escreve, escreve para fora e sendo muito consciente de para onde escreve, mas há muito pouca confiança sobre a partir de onde escrevemos, qual é a voz real que conta? Qual é a coluna vertebral de onde se alinhavam todos os fios que depois se convertem em história. Então, quem vai participar do curso, em primeiro lugar tem que ter em mente que é um curso muito duro, porque é um curso em que através do trabalho com a voz, e falo da voz física, vamos a conhecer quem fala e quem conta. Isso é o que me interessa: se tu não sabes quem é que conta e quem é que escreve nunca vais poder dominar a tua escrita, não vais ser capaz de controlar teu instrumento.

 

A 47ª Feira do Livro da FURG acontece de 29 de janeiro a 9 de fevereiro, no turno da noite na Praça Dídio Duhá, no Balneário Cassino. A programação completa pode ser acessada aqui.

 

Acessoria de Imprensa/Universidade Federal do Rio Grande 

Comentários
Comentário enviado com sucesso!